O JULGAMENTO DE CAROLYNE REVS
Para não pagar a apólice do seguro, Carolyne Revs vai a júri na qualidade de cúmplice do bandido. Porém, o público, cutucado, desperta e reage exigindo sua inocência.
Seis horas antes do início do julgamento, Carolyne Revs, 28 anos, acusada de cumplicidade, já se encontrava no salão do júri. Estava sozinha e isolada, acomodada por trás de um parcial tapume.
Iniciado o julgamento, Carolyne, inocente, dirigiu-se ao juiz, dizendo-lhe que o Estado de Brands pecava contra ela, pois há seis horas tinha sido retirada à força de casa e, incomunicável, fora ali colocada.
– …
O promotor federal dirigiu-se a ela e perguntou-lhe se confirmava ter sido namorada secreta do fora da lei, Mac Marlon, 30 anos.
– Confirmo, senhor.
– Como o conheceu?
– À margem do lago Nuar, situado a três léguas daqui, quando dava de comer aos cisnes.
Disse o promotor federal:
– Nas suas anotações… "Quando não tínhamos mais assunto para conversar em torno do lago e dos cisnes, ele me levou para casa. Revelou-me, durante o chá que lhe ofereci, ser Bob Wilson. Percebendo que eu parecia receosa, pediu-me que ficasse tranquila, pois jamais me faria mal... A vida já me havia feito... Quanto a Bob Wilson, prometeu-me que jamais estaria no interior de minha residência, promessa, inclusive, que cumpriu."
– Isso.
– Passou a frequentar a sua residência?
– Sim.
– Cúmplice, então?
– …
– Diga-nos sobre a apólice do seguro. – pediu−lhe.
Ela contou que Mac Marlon sabia que, a qualquer momento, poderia ser morto, sob o crivo impiedoso das balas da lei, e aquilo o preocupava, uma vez que ignorava até quando o mundo seria gentil com ela. Então, certo dia, disse a ela que havia feito um seguro de vida. Caso morresse, como previa, não ficaria desamparada: bastaria saber se cuidar. Ao ser abatido, com prévia, ela esteve na seguradora para dar entrada no resgate da apólice, dizendo-lhe o senhor Frank que, além do seguro ter sido feito em outro estado, Mac Marlon havia ludibriado. Não se sabia que ele era o sanguinário fora da lei, Bob Wilson. Afirmando não ter culpa, o senhor Frank concordou e prometeu que, mesmo assim, daria entrada na papelada. Conversando posteriormente com o senhor Robert a respeito do assunto, disse-lhe que as coisas não funcionavam daquela forma. Mac Marlon, ao preencher a papelada, havia, sem dúvidas, assinalado que desempenhava atividade de risco. É verdade que assaltante de banco não era uma atividade lícita, reconhecia. Mas, por outro lado, havia mineradoras trabalhando irregularmente em todo o país, e estavam asseguradas. Se negassem o pagamento sob aquele argumento, que ele fosse procurado. Então, no aguardo da promessa do senhor Frank, fora, como já havia afirmado, sido retirada à força de sua casa e, incomunicável, ali colocada.
O advogado que a defendia, não quis se manifestar. O juiz conclamou a todos para as considerações finais...
Apossado de volumoso maço de jornais, o promotor federal dirigiu-se ao centro do salão e indagou aos presentes se eles faziam ideia do número de pessoas vítimas das atrocidades do Mac Marlon, ali registrado.
– …
Dirigiu−se a Carolyne Revs, e perguntou−lhe por quantos anos convivera com o fora da lei, Mac Marlon.
– Por oito anos, senhor.
Voltando-se para o público, disse que aqueles jornais registravam quarenta e um assassinatos, praticados por Mac Marlon, números que poderiam ser amenizados, caso a senhora Carolyne Revs tivesse saído de seu aconchego e o denunciado à Justiça.
– Uma cúmplice, portanto, senhores. – explanou – E que pretende desfrutar de uma apólice de seguro custeada pelo derramamento de sangue. O estado de Brands silencia quanto à pena capital a cúmplices. Mas refletiremos! Pois esta condenação será um glorioso marco para que todo o país penalize adequadamente o não menos cruel crime de omissão.
O advogado que a defendia, permaneceu indiferente. Pediu, portanto, o juiz aos jurados que se manifestassem sobre a sentença.
Eis que, no momento de o primeiro jurado declinar seu voto, a porta existente ao fundo do salão foi violentamente aberta e invadida pelo vendedor de rações do Lago Nuar. Uma imensa e ainda fresca pintura, mostrava Carolyne Revs numa cadeira de rodas, pernas amputadas, dando de comer aos cisnes.
– Na infância! – gritou ele.
– … Desgraçados! – reagiram.
O bastante. O público levantou-se e, acercando o juiz e toda aquela corja, exigiu que os jurados a inocentassem.
A seguradora, pressionada, pagou a apólice.
... Uma história difícil de entender.
ILUSÃO OU FATO?
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